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Coluna Marcelo Moryan: O BONÉ DE SATÃ
Por Marcelo Moryan
Publicado em 6 de julho de 2025 às 09:00
Atualizado em 6 de julho de 2025 às 09:00
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“Disaster looms”. A frase da juíza Ketanji Brown Jackson, a mais nova integrante da Suprema Corte americana, ecoa como um aviso sombrio. Mas, para além da gravidade do que ela representa no cenário político dos EUA, o que realmente me fisgou na coluna da Laura Greenhalgh, da Folha de S.Paulo, foi a menção à “gente que ainda acredita em bonés” – uma imagem perfeita do nosso tempo. Vivemos numa era onde parece ter um boné para cada ideologia, cada tribo, cada “eu sou assim”.
Colocamos bonés de “progressista”, “conservador”, “empreendedor de sucesso”, “influencer”. Bonés que definem, rotulam, e muitas vezes, cegam. Por trás de toda essa parafernália de identificação, o que falta mesmo é algo mais básico: a real disposição de fazer o certo. De olhar para trás, refletir sobre os próprios erros, e, acima de tudo, deixar o ego de lado. É uma falha que transcende partidos e crenças – uma miopia coletiva que nos impede de enxergar o óbvio.
Há um boné, porém, que ninguém parece querer usar – simples, sem grife, holofotes ou a promessa de seguidores e aplausos: “FAÇA O MELHOR PARA O SEU PRÓXIMO”. Esse, sim, suplanta todos os outros. Desde que o mundo é mundo, a história nos mostra que só existe um caminho para as coisas darem certo, para a sociedade prosperar de verdade. E é justamente esse caminho que poucos se arriscam a trilhar, preferindo a trilha batida do autointeresse.
O ego, ah, o ego! Ele é tão inflado que até em lugares que deveriam ser refúgios do sagrado, como muitas igrejas, o palco se sobrepõe ao altar. Vemos aberrações, com lugares marcados para “estrelas” e o povo comum relegado à plateia. Onde está a humildade? Onde está a essência do “fazer o melhor para o próximo” quando a vaidade dita as regras e a busca por reconhecimento individual corrompe o propósito coletivo?
No fim das contas, nessa guerra de bonés — os visíveis e os invisíveis, os ideológicos e os puramente egoístas — quem realmente ganha é o adversário. Aquele que, como bem sabemos, somos nós mesmos. O Satã aqui não é uma figura mitológica, mas a nossa própria incapacidade de superar o individualismo, de tirar o boné da soberba e vestir o da empatia. E é aí que o “Disaster looms” (O DESASTRE SE APROXIMA) de Ketanji Brown Jackson se torna uma profecia autorrealizável, não apenas para a Suprema Corte, mas para a humanidade. No final, com todos esses bonés que usamos, o que vestimos mesmo é o boné de Satã.
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