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Coluna Marcelo Moryan: O que Jesus faria no Templo Digital?
Por Marcelo Moryan
Publicado em 31 de agosto de 2025 às 18:00
Atualizado em 31 de agosto de 2025 às 18:00
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Deus foi terceirizado para o mercado — e alistado para a guerra. O episódio do Templo não é lembrança piedosa; é manual de crise para a era digital. Onde deveria haver casa de oração “para todas as nações”, instalaram-se pedágios espirituais e púlpitos que se confundem com vitrine. Esse enredo antigo explica o presente com precisão desconfortável.
Voltemos à cena original. Jesus entra no Templo e não abre sindicância: vira mesas, solta animais, interrompe o fluxo do caixa e cita os profetas — “casa de oração”, não “covil de ladrões”. Está nos quatro evangelhos: Mateus 21:12; Marcos 11:15; Lucas 19:45; João 2:13. O alvo era a engrenagem que tarifava o sagrado e expulsava os que menos podiam pagar.
Corte para hoje. O templo migrou para as telas, e o altar virou checkout digital. É QR code na live, PIX do milagre, “semente” com link de pagamento. Lives de oração com chat premium, testemunho em stories patrocinados, algoritmo que empurra conteúdo “ungido” para quem já doou. Pastores, frades, gurus — não todos, mas os barulhentos — converteram fé em assinatura recorrente. O app da igreja tem mais funcionalidades que banco: dízimo automático, oferta por aproximação, carnê digital da promessa.
Transparência? O extrato não vem. O culto virou live commerce: luz, fumaça, jargão motivacional e um Deus-marca com bordão de venda. A culpa virou moeda digital; o fiel, usuário cativo de um ecossistema que monitora até suas orações. Cookies espirituais rastreiam sua fé, e o Big Data celestial sabe quando você está vulnerável: “Sua bênção está esperando. Clique aqui.”
E quando a fé vira produto digital, a política encontra sua arma de destruição em massa. Fake news com versículo, bot evangelizador, guerra santa no trending topics. Na Palestina, vemos genocídio — punição coletiva, fome como método, crianças sob escombros — tudo sob verniz teológico e hashtags de vingança.
Se o maior templo de Deus é o nosso coração, a faxina começa por dentro — e inclui limpar o histórico. Irritou? Talvez seja o tilintar das notificações de cobrança no átrio íntimo. Cada um sabe onde instalou a maquininha digital. Derrube suas plataformas virtuais antes que comprem sua consciência e aluguem o nome de Deus para mais um massacre em 4K.
Jesus derrubou mesas, não pessoas; nós fazemos o contrário — agora com transmissão ao vivo. Se seu templo virou e-commerce e sua fé precisa de login e míssil, não é fé — é branding com pólvora.
E se você ainda espera um resgate e quer verdadeiramente seguir o Evangelho — ou qualquer outro livro sagrado —, faça o que Jesus faria nos templos digitais: saia do sistema e vire as mesas. Comece pelas suas.
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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