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Marcelo Moryan é Publicitário, Designer, Escritor, Fotógrafo, Artista Multimídia e tem mais de 90 prêmios nacionais e internacionais na sua carreira.

Coluna Marcelo Moryan: Não temos mais permissão para ser tristes: o preço de uma vida perfeitamente “OTIMIZADA”

Por Marcelo Moryan

Publicado em 5 de outubro de 2025 às 18:00
Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 18:00

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Imagem: Marcelo Moryan

Vivemos na era do selfie e da autoajuda instantânea. Uma cultura obcecada em nos vender a ideia de que a felicidade não é um estado passageiro ou uma conquista pessoal, mas uma obrigação moral. A alegria se tornou uma tirania silenciosa: se você não está constantemente otimista, agradecido e sorrindo, não está apenas infeliz — você está falhando como ser humano.

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Esta ditadura da felicidade otimizada é, na verdade, uma fuga covarde da plenitude da existência.

A condição humana, quando observada sem os filtros das redes sociais, é inerentemente complexa e, por vezes, trágica. Estamos conscientes da nossa finitude, do absurdo da existência e da inevitabilidade da perda. É uma realidade que a filosofia nunca evitou enfrentar.

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Albert Camus nos ensinou que a dignidade humana não reside em evitar o sofrimento, mas na consciência lúcida da nossa luta contra o absurdo. Contudo, a cultura contemporânea nos vende uma mentira sedutora: a de que a vida pode ser um gráfico em constante ascensão, livre de sombras e contradições.

Exige-se que sejamos “guerreiros da luz”, negando sistematicamente a escuridão que nos torna multidimensionais e autenticamente humanos.

O que perdemos ao varrer para debaixo do tapete o luto, a raiva justa e a melancolia? Perdemos a profundidade. Arthur Schopenhauer já alertava: a busca frenética pela felicidade é uma armadilha existencial. É o desejo incessante e irreflexivo que gera o sofrimento. Nossa recusa em aceitar a tristeza como parte legítima da experiência humana é, ironicamente, o que nos torna mais infelizes e cegos à realidade profunda da nossa própria existência.

Entre as emoções humanas, nenhuma foi mais desvalorizada pela nossa pressa digital do que a melancolia.

A melancolia não é depressão patológica; é um estado de reflexão profunda e contemplativa. É o momento sagrado em que a alma se afasta do ruído das obrigações cotidianas e confronta o sublime — a beleza fugaz, a vastidão da história, o valor silencioso de algo perdido para sempre.

Foi deste solo melancólico que nasceram as grandes obras de arte, os versos mais tocantes da poesia e as reflexões mais profundas da filosofia.

Hoje, a melancolia é tratada como um bug no sistema da produtividade. É algo a ser corrigido imediatamente com um podcast motivacional, um atalho químico ou um post inspiracional. Não há mais tempo para contemplação genuína; há apenas a obrigatoriedade da produção incessante e da exibição performática de contentamento.

Ao abolirmos a melancolia, eliminamos um dos caminhos mais nobres para o autoconhecimento e a criatividade autêntica.

A exigência cultural de ser “feliz” é, em sua essência, uma exigência de superficialidade. É uma ordem implícita para que não questionemos demais, não sintamos com intensidade e, sobretudo, não incomodemos os outros com nossa realidade interior complexa.

A cultura da felicidade obrigatória revela-se uma covardia existencial. Ela se recusa a abraçar o que Friedrich Nietzsche chamou de Amor Fati — o amor incondicional ao nosso destino, que necessariamente inclui a tragédia, o esforço e a dor.

Queremos apenas a metade ensolarada da vida, mas é precisamente a sombra que dá forma, profundidade e significado à nossa alma.

A escravidão do sorriso é a mais insidiosa de todas as prisões, pois nos faz acreditar que somos livres — “escolhemos ser felizes!” — enquanto estamos acorrentados ao medo paralisante de sentir.

É hora de reivindicarmos nosso direito inalienável à tristeza, à raiva justa e, sim, à melancolia contemplativa.

A felicidade genuína não é a ausência neurótica da dor, mas o significado encontrado apesar dela — e através dela. Somente ao abraçarmos o espectro completo das emoções humanas, mesmo aquelas que nos fazem encolher temporariamente, podemos ter a chance real de alcançar uma plenitude autêntica, infinitamente mais rica e grandiosa do que a alegria rasa que nos é imposta pelos algoritmos da felicidade.

A verdadeira plenitude humana reside na capacidade de chorar por algo que vale a pena e, depois, de lutar por algo ainda maior.

Quem perdeu essa capacidade perdeu a própria essência da vida.

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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es

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