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Coluna Marcelo Moryan: A Vice de Guarapari tocou o alarme do TITANIC?
Por Marcelo Moryan
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 09:17
Atualizado em 26 de novembro de 2025 às 09:17
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Maquiavel concordaria: a política é a arte de navegar mares turbulentos — e, confesso, em Guarapari estou sentindo cada vez mais que estamos em águas onde até o GPS político perdeu o sinal. O rompimento da vice-prefeita com a atual administração municipal, com direito à devolução da Secretaria de Trabalho, Assistência e Cidadania, chegou como aquele trovão que só assusta quem não acompanhou a mudança do tempo. Para quem anda pela cidade — eu inclusive — a tempestade já estava anunciada faz tempo.
Quando essa gestão começou, parecia que estávamos embarcando em um grande transatlântico das promessas. Fogos, discursos inspirados, tapinhas nas costas, sorrisos largos… Aquele clima de “agora vai” que em Guarapari brota mais rápido que a vegetação abandonada na Av. dos Apaixonados de Buenos Aires — lá nas montanhas, onde o desinvestimento está tão evidente que até a flora invasora já criou personalidade própria. Só que, enquanto o confete era jogado para cima, o chão da cidade ia sendo engolido por crateras, obras paralisadas viravam improviso e a mata selvagem tomava forma de monumento à negligência. Não em um bairro. Na cidade inteira.
E então vem o rompimento da vice. Para alguns, um choque. Para mim, apenas a confirmação daquilo que muitos de nós começamos a perceber: o “transatlântico” em que apostamos se mostrou um Titanic de bolso — suntuoso nas promessas, frágil na estrutura. E agora, com a vice deixando o barco, fica evidente que a embarcação vinha fazendo água há tempos — só faltava alguém ter a coragem de admitir.
E aqui entra algo que ouvi de pessoas ligadas à gestão da prefeitura, frustradas com os descaminhos da administração. Elas me disseram algo que ressoa como verdade urgente: na gestão pública, ouvir pessoas é uma das coisas mais importantes, mas não se trata apenas de escutar — é preciso consolidar e viabilizar suas ideias em prol do bem comum. Transformar diálogo em ação, propostas em resultados.
Só que isso não é o que vem acontecendo em Guarapari. Há uma diferença brutal entre manter os ouvidos abertos e ter os olhos focados no que realmente importa. A gestão ficou presa na conversa morna, naquele teatro de “estamos ouvindo vocês” — enquanto as ideias, as sugestões, as demandas das pessoas viram papel molhado. Há promessas que não saem do discurso. Há demandas que morrem na gaveta. Há diálogo sem substância.
Será que foi exatamente isso que fez a vice pular de um navio à beira do abismo? A frustração de ter as portas abertas ao debate, mas as mãos amarradas para transformar em ação? De ver iniciativas chegarem e nada se converter em política pública?
Fiz essa pergunta direto para ela. E a resposta veio clara, corajosa e digna: “Aprendi que servir a cidade exige coragem para agir com coerência e respeito ao futuro de Guarapari.”
Está tudo dito.
Há quem critique: ela deveria ter renunciado ao cargo de vice também. Talvez. Mas quem conhece política sabe que é um jogo de xadrez em terra minada. Permanecer no cargo pode ser coragem — oportunidade de manter a alavancagem, o leverage político que permite influenciar mudanças de dentro. Sair pode ser covardia ou sabedoria. Nem sempre conseguimos separar uma da outra.
Mas aqui vai o ponto crucial: eu não torço contra Guarapari. Nunca torci. Sou apaixonado por essa cidade. Estive com o prefeito recentemente em Alto Iguape e deixei evidente mais uma vez que, no que depender de mim, permaneço disponível para contribuir. Só que colaborar não significa fechar os olhos diante do evidente. E eu, graças a Deus, ainda vejo com clareza — e reconheço quando a maré sobe perigosamente.
Como dizia Antonio Gramsci, é preciso equilibrar o pessimismo da razão com o otimismo da vontade. A razão me aponta que estamos navegando em direção ao precipício. Mas a teimosia guarapariense insiste em acreditar que ainda há como corrigir a rota. Sei que vão me jogar pedras. Faz parte. Em Guarapari, criticar é profissão de risco. Mas pelo menos as pedras confirmam que fui ouvido.
Por isso imploro à gestão: reserve parte daquele estoque de celebrações e o invista onde verdadeiramente importa. A encenação de diálogo sem consequência já não cabe. Este rompimento não será a batida final do Titanic de Guarapari contra o farol da Ilha escalvada, mas o último aviso antes do colapso total — se ainda houver disposição para agir. Ainda há tempo de evitar o naufrágio.
Porque Guarapari não precisa de promessas embaladas como cruzeiros de luxo.
Precisa apenas de uma embarcação que flutue. E você? O que conclui? A vice tocou de fato o alarme do TITANIC — ou apenas confirmou aquilo que todos já suspeitávamos?
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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