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Coluna Marcelo Moryan: Amarelo ou verde: quem é o mais idiota?
Por Marcelo Moryan
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 15:35
Atualizado em 23 de dezembro de 2025 às 15:35
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Olho para a imagem e só consigo pensar: quem é o mais idiota aqui? O de amarelo? O de verde? Ou nós, que assistimos ao espetáculo como se fosse a final olímpica da imbecilidade?
A verdade é desconfortável — tão desconfortável quanto pisar num Lego descalço às três da manhã: quem ganha com a polaridade não é você, não sou eu. É a discórdia. Aquela velha senhora que sobrevive há séculos porque a humanidade, teimosa, continua dando palco, aplausos e close-up. E, claro, os políticos. Sem conflito, sem inimigo imaginário, sem ódio terceirizado… ficam nus. Pelados, com a mão no bolso, sem narrativa, sem épico, sem plateia para alimentar.
Nietzsche já avisava: “Quem luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro.” Mas ninguém lê Nietzsche. Preferem manchetes, tuítes raivosos, vídeos de 15 segundos onde alguém grita mais alto e, portanto, “vence”. O monstro não está lá fora. Está no espelho, segurando um chinelo como se fosse uma bandeira.
E aí o cardápio se resume a isto: três palhaços e um espelho.
Trump — o idiota-mor, especialista em transformar conflito em patrimônio, em marca registrada, em reality show infinito.
Bolsonaro — versão portátil, que cabe no bolso direito, conveniente como moeda esquecida que você acha e pensa: “Ah, isso ainda vale alguma coisa?”
Lula — que cabe no bolso esquerdo, igualmente conveniente, igualmente esquecido até na hora de pagar a conta.
E você — o espelho — que cabe dentro da própria cabeça, se decidir usá-la para pensar ao invés de servir de depósito para brigas alheias, ódios emprestados, guerras que nunca foram suas. Porque nossa única guerra de verdade é pensar, avaliar, fiscalizar e exercer a cidadania. O resto é teatro.
Idiota é achar que só existem dois lados e acreditar que destruir o outro ilumina você. Idiota, mesmo, é a polaridade — esse velho truque de mágica que continua funcionando porque a plateia insiste em aplaudir, em comprar ingresso, em voltar para a próxima sessão.
Enquanto a internet discute qual sandália é a mais revolucionária, enquanto políticos fazem vídeo jogando chinelo fora como se fosse gesto de rebeldia (spoiler: não é), enquanto a bolsa cai como se tivesse tropeçado no próprio orgulho… a vida segue pedindo leveza.
E leveza não se compra. Se calça.
Oscar Wilde, com sua ironia afiada, dizia: “A maioria das pessoas são outras pessoas. Seus pensamentos são opiniões de outros, suas vidas uma imitação, suas paixões uma citação.” Olhe para o duelo das havaianas e pergunte-se: de quem é essa briga? De quem é esse ódio? De quem é essa urgência de escolher um lado, qualquer lado, desde que seja contra alguém?
Talvez seja o único manifesto realmente útil para 2026: menos ódio, mais pé no chão. Menos guerra inventada, mais caminhada real. Menos idolatria, mais lucidez. Menos espadachins digitais, mais gente normal tentando viver.
Porque, no fim, o único lado que vale escolher é o lado do conforto — aquele que continua inteiro mesmo depois do barulho passar, aquele que não precisa de inimigo para existir, aquele que não se define pelo que odeia, mas pelo que escolhe preservar.
Então, voltando à pergunta: amarelo ou verde, quem é o mais idiota?
Nenhum dos dois.
O mais idiota é quem ainda acha que precisa escolher.
O melhor mesmo é andar com os pés no chão. E se for para usar chinelos, que sejam de qualquer cor — desde que sirvam para caminhar, não para guerrear.
Literalmente.
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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