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Coluna Marcelo Moryan: Manual prático do bobo premium: vencer sem lutar
Por Marcelo Moryan
Publicado em 26 de outubro de 2025 às 18:00
Atualizado em 26 de outubro de 2025 às 18:00
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No mundo dos santos do pau oco, onde a vida perfeita só existe no filtro das redes e até a inteligência artificial virou campo de batalha ideológica, descobri uma fórmula de resistência: o meu kit de bobo. Pisou no meu pé de propósito? Sou eu quem pede desculpas. Foi ignorante comigo? Não retruco, apenas dou de ombros. No trânsito, não discuto; com o vizinho, não debato política; no balcão do hotel, não disputo atenção com o celular do recepcionista. Chamem de fraqueza — eu chamo de estratégia.
“Não jogue pérolas aos porcos.” Não é desdém; é curadoria emocional. A maioria das brigas é vaidade pedindo palco. Eu tiro o palco. “Não alimente o troll” virou minha filosofia aplicada à vida real. A mansidão, longe de ser capitulação, é um corte cirúrgico naquilo que não merece nosso tempo. Epicteto já tinha o mapa: “Não são as coisas que nos perturbam, mas a opinião que temos sobre elas”. E Viktor Frankl acrescenta a chave-mestra: “Entre o estímulo e a resposta, há um espaço; nesse espaço reside nossa liberdade e nosso poder de escolher a resposta”. É nesse intervalo que penduro o meu nariz de bobo e deixo o mundo brigar sozinho.
Meu kit de bobo tem três peças fundamentais:
- Priorizar o que fica de pé depois da raiva.
- Escolher o custo mais barato — e quase sempre é o do ego.
- Desligar-se do teatro do mundo antes que o mundo ligue o automático em você.
Não se trata de passividade, mas de precisão em escolher onde investir energia. A máscara do bobo me permite trafegar num carnaval de egos sem me tornar mais um. Eu não fujo do conflito; só não financio o que não me eleva. Nietzsche alerta: “Quem luta com monstros deve cuidar para não se tornar um”. Pois bem, eu escolho não bancar o monstro do dia. Sêneca, sempre direto: “Sofremos mais na imaginação do que na realidade”. É justamente nesse intervalo que o bobo economiza energia.
Porque, no fundo, a vida não premia quem vence discussões, mas quem economiza alma. Que ganho há em converter o vizinho em adversário ou em provar para um desconhecado, a 80 km/h, que a seta é um instrumento civilizatório? Prefiro colecionar serenidades. O truque — e aqui mora a provocação — é trocar a adrenalina do “eu tenho razão” pela elegância do “eu tenho paz”. Nem toda verdade merece público; nem todo público merece minha verdade.
Quer felicidade em parcelas possíveis? Reduza o drama, aumente a substância. Deixe que os santos do pau oco recitem seus editais de virtude; eu recolho meu corpo, afino minha paciência e sigo. O mundo reage como quer; eu escolho como permaneço.
Entre o impulso e o gesto, crio meu intervalo consciente — um pequeno santuário portátil. Quando o barulho passar, ficará o que sempre fica: a vida real, sem final feliz garantido, mas com momentos honestos o bastante para valer a pena.
E se alguém perguntar qual é o segredo? Sorrio por trás da máscara e respondo: aprendi que a maior vitória não é ter razão — é ter sossego.
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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