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Coluna Marcelo Moryan: Nossa Esperança é “Burra” e “Corrupta”
Por Marcelo Moryan
Publicado em 24 de agosto de 2025 às 18:00
Atualizado em 25 de agosto de 2025 às 08:06
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Vamos ser honestos: votamos na aparência. Terno alinhado, sorriso de comercial e voz ensaiada. Pesquisa sobre o candidato? Quase nada. Contexto político? Só se vier resumido no WhatsApp. Trocamos voto por aceno na rua, foto na feira, promessa de balcão. Depois, quando o eleito nos ignora completamente, fazemos discursos indignados — como se a urna tivesse sido preenchida por acaso.
Esse teatro se repete porque nosso sistema premia a aparência sobre a substância. Campanhas milionárias criam um ambiente onde a performance supera a competência. É um ciclo que se alimenta da nossa pressa e preguiça cívica e, sim, da nossa cumplicidade.
Nosso “representante” ganha “200 mil ovos” por baixo dos panos para dividir com os aliados, e nós fingimos surpresa. Corrupto é ele, claro — mas nossa conivência vai para onde? Normalizamos o jeitinho, racionalizamos a má gestão e depois nos posicionamos como defensores da ética nas redes sociais. Conveniente, não é?
Na eleição passada, votei no candidato da educação de fachada: cumprimentos cordiais, aperto de mão fotogênico. Depois de eleito, marcamos uma conversa sobre um projeto cultural. Quatro horas de espera (sem direito a cafezinho) — contribuinte em modo standby. Quando enfim me recebeu, veio com o olhar de peixe traíra; hoje, se me vê, muda de calçada. Piada pronta, paga com meu imposto.
Os clássicos já avisavam: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente” — Lord Acton. Não é maldição: é manual de instruções que ignoramos sistematicamente.
Mas aqui está a virada: a mudança não vem de cima, vem de dentro. E aí veio a reflexão da minha esposa: “Não sei por que você ainda se decepciona — sempre fomos só nós mesmos e sempre conseguimos.” Ela tem razão. Cada conquista real da nossa vida veio do nosso esforço, da nossa recusa em aceitar o inaceitável.
Continuamos a nos iludir, esperando um banquete de honestidade de quem só sabe cozinhar com ovos podres. A cada eleição, entregamos a panela, os ingredientes e a receita para quem já provou que só faz omelete com os “200 mil ovos” que sumiram da nossa mesa. E depois, surpresos, reclamamos do cheiro.
A verdade é que nossa esperança, essa que nos faz entregar a panela e os ovos a cada ciclo, é burra. E corrupta, sim, porque se corrompe na nossa conivência, na nossa apatia de fazer a omelete com as próprias mãos.
Existe luz no fim do túnel? Não creio… Estou caminhando dentro dele e tudo que consigo enxergar é um galinheiro cheio de ovos — e, sem pessimismo, continuamos a ser as galinhas.
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