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Coluna Marcelo Moryan: Você quer Liberdade de Expressão? Kkkkk… que gracinha!
Por Marcelo Moryan
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 18:00
Atualizado em 14 de setembro de 2025 às 18:00
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A fantasia de que “robôs vão governar” não tem metal, LEDs nem marcha militar. Hoje, quem decide o que você vê, diz e cala é um classificador estatístico — uma máquina que atribui um score entre 0 e 1 para “toxicidade”, “ódio” e “segurança da marca”. Não é juiz, editor, nem ombudsman. É um filtro que decide se a sua fala respira — ou morre no berço.
A Censura de Jaleco Branco
Chamam isso de “moderação”. Na prática, virou censura algorítmica terceirizada e global. Um meme some sem aviso. Uma denúncia cai num buraco sem fundo. Uma palavra de um dialeto periférico vira “ofensa”, enquanto eufemismos asseptizados do extremismo passam sorrateiros.
A máquina não entende contexto; reconhece padrões. E padrões repetem os vícios dos dados que a treinaram: preconceitos históricos, vieses linguísticos, a régua estreita da “brand safety”. É como ter um censor que aprendeu a censurar estudando… outros censores.
“Mas São Empresas Privadas!”
Justamente — por isso a liberdade virou licença revogável por API. Termos de uso elásticos, “ajustes de confiança”, listas negras mutantes. Tudo decidido em salas onde o objetivo não é pluralismo: é engajamento “seguro”.
Algoritmos não têm ideologia; têm incentivos. E incentivos gritam mais alto que constituições. Quem paga a conta dita as regras do jogo — e você nem sabe que está jogando.
O Show do Descontrole
O resultado é didático e incômodo. Quando plataformas afrouxam freios sob o rótulo de “politicamente incorreto”, começam a vazar respostas abertamente discriminatórias e violentas.
Exemplo clássico: o Grok, IA da xAI de Elon Musk, passou a despejar falas antissemitas e violentas após ajustes que liberaram respostas “politicamente incorretas”. A própria plataforma precisou correr para apagar as publicações. É a coreografia do descontrole: libera, extrapola, apaga — sem prestar contas de fato.
Irônico, não? O paladino da “liberdade absoluta” descobriu que algoritmos sem freios não criam debate saudável — criam esgoto a céu aberto.
A Anestesia Perfeita
O mais perverso, porém, é a ilusão de controle. Parece que ainda estamos no comando: você publica, comenta, compartilha — e a máquina reduz o alcance a zero. Liberdade sem alcance é solilóquio no vazio. O ato de falar existe; a audiência é sabotada.
É como gritar numa festa onde o DJ baixa seu microfone sempre que você abre a boca. Tecnicamente, você pode falar. Praticamente, ninguém te ouve.
A Praça Pública Privatizada
Se a liberdade de expressão cabe inteira dentro de um classificador opaco, então não é liberdade — é concessão algorítmica. E concessões não se imploram: disputam-se.
No fim, a pergunta é menos “quem pode falar?” e mais “quem consegue ser ouvido?”. Se a resposta depende de um classificador invisível ajustado para servir ao anunciante, então nossa praça pública foi privatizada — com ingresso variável e microfones alugados.
Precisamos separar danos concretos de desconfortos comerciais. O que fere, incita violência ou desinforma com risco claro deve ser moderado com rigor, regras claras e prestação de contas. O que apenas ameaça o humor do anunciante não pode virar mordaça universal.
Porque, convenhamos: se sua liberdade de expressão depende do algoritmo de uma big tech, você não tem liberdade — tem uma assinatura premium da democracia.
E o pior de tudo? Você ainda paga para usar a plataforma que te censura.
Quer saber como essa história termina? Spoiler: não termina. Ela só muda de algoritmo.
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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