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‘Nada é mais forte do que uma mulher que se reconstruiu’, relata vítima de agressão em Guarapari

Quase um ano depois, ela conta que ainda luta contra os traumas causados pelo agressor

Por Pedro Henrique Oliveira

Publicado em 8 de março de 2023 às 11:02

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Violencia contra mulher - ‘Nada é mais forte do que uma mulher que se reconstruiu’, relata vítima de agressão em Guarapari

Joana* foi agredida pelo ex-marido após não aceitar assumir uma multa de trânsito dele e ameaçar mudar o status de relacionamento no Facebook.

“Até então, ele nunca tinha me agredido. Em outras vezes que tentei me separar, ele nunca aceitou. Nesse dia, ele veio até o quarto, me arrastou pelo braço até a cozinha, me colocou contra a parede e começou a me enforcar. Tinha uma faca perto, ele pegou e me cortou com ela no pescoço e depois na barriga”, contou a vítima na época do ocorrido. O agressor foi denunciado, mas não foi preso.

Quase um ano depois, Joana conta que ainda luta contra os traumas causados pelo agressor.

“Acho que minha maior batalha é cuidar da saúde mental. Dor é quando eu me olho no espelho e vejo as cicatrizes que carrego em meu corpo e o psicológico cheio de traumas para o resto da vida! Causada por alguém que tanto ajudei. A mulher acredita que por causa dos filhos devemos lutar e suportar tudo, na esperança de uma mudança que nunca vai existir! Nos primeiros 6 meses não conseguia dormir na minha casa, havia muito medo de entrar no quintal e tentar mais uma vez tirar a minha vida, medo de andar na rua, qualquer barulho à noite eu já não conseguia dormir de medo. Foram 10 meses de pesadelos noturnos, os sonhos sempre eram iguais: ele com uma faca atrás de mim e eu desesperada fugindo. Foram 11 meses de crises de gritos, choros, de revolta, depressão acompanhada de injustiça, já que ele não foi preso. O meu bebê foi o meu único motivo de continuar vivendo, pois o suicídio em momentos de dor muitas vezes foi pensado. O agressor sempre vai se fazer de inocente, inventando histórias que não existem, te pondo como a louca, culpada e ele a vítima.”

Logo após a tentativa de homicídio, Joana buscou ajuda, após orientação da delegada responsável pela delegacia da mulher. Foi no Espaço de Convivência Paz e Bem (EcoPaz) que ela encontrou um caminho para fugir do medo.

A EcoPaz é um projeto totalmente voluntário, onde mulheres estão todos os dias para nos receber, abraçar, conversar com todo amor e carinho. É um lugar de paz!  Que ajuda as mulheres toda a dor da alma. Eu fui uma das primeiras a fazer terapia, toda semana com a psicóloga. Eu contava os dias e as horas para chegar o dia da minha sessão na EcoPaz. Eu sempre entro com o coração e alma, e saio com força, saúde e brilho para os próximos dias. Saúde mental é vida. Hoje eu não vivo mais sem terapia, não vivo mais sem este acolhimento. Elas me abraçaram e ajudaram a sustentar tantas coisas horríveis que eu vivi. Quando eu falto as sessões ou passo tempo sem ir, é como se tudo ficasse escuro de novo. Eu dedico a minha recuperação, a minha saúde à EcoPaz, que meu deu todo apoio que meu coração necessitava. Elas foram presentes. Ali eu renasci a minha vida de novo.”

A ajuda que ela recebeu no projeto tem feito com que ela use sua voz e sua história para incentivar outras mulheres vítimas de violência.

“Se ame e não case com a morte. Não se submeta ao pouco com medo de ficar sem. Se relacionar com alguém que só te faz sofrer é se entregar à morte e esperar que ela aconteça. Cuidado com o que você aceita, com o que você ignora para ficar bem. Pare de tolerar o intolerável. Não existe amor onde só tem dor, humilhação, agressão. Não existe amor onde há traição, falta de respeito, acusações e mentiras. Não perca tempo esperando uma mudança de quem nunca vai mudar. O tempo está passando e sua vida está parada porque você dá chances a quem não merecia nada. O puxão de cabelo hoje pode ser o soco de amanhã.  O soco de amanhã pode ser o tiro posteriormente. No fim ele vive e você morre. O que é bom só vai chegar quando você soltar o que é ruim. Aprendi que o narcisista finge perfeitamente ser o que nunca foi para conquistar a vítima. Cuidado, o amor pode ser tudo, menos violento! Eles sempre mostram sinais! Jamais ignores esses sinais! A minha vida hoje está mil vezes melhor, o recomeço sempre será difícil, mas será mil vezes melhor do que perder a vida ao lado de um agressor que promete mudança, mas só está te enganando. Nada é mais FORTE do que uma mulher que se reconstruiu!

Lei 11.340 – Lei Maria da Penha

A Lei 11.340, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada no Brasil no dia 7 de agosto de 2006, com o objetivo de criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A legislação configura como violência doméstica qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que no ano de 1983 foi vítima de dupla tentativa de feminicídio por parte do marido.

Ligue 180

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.

O serviço também tem a atribuição de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade.

EcoPaz

Um dos locais de acolhimento para mulheres vítimas de violência em Guarapari é o EcoPaz (Espaço de Convivência Paz e Bem), inaugurado no ano passado. O espaço é voltado para o acolhimento emocional e afetivo de mulheres.

Local: Rua: Horácio Santana, 434 – 2º andar
Parque Areia Preta
Dias: Segunda-feira à sexta-feira
Horário: das 14h às 18h
Contato: [email protected]

*A reportagem optou por preservar o nome real da entrevistada.

É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem prévia autorização do FolhaOnline.es.

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