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Coluna Marcelo Moryan: Casais felizes já experimentaram “ménage”
Por Marcelo Moryan
Publicado em 2 de novembro de 2025 às 18:00
Atualizado em 2 de novembro de 2025 às 18:00
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Vivemos na era do título esportivo: quem pisca, perde o jogo. A timeline é um leilão de atenção onde ganha quem acena mais alto, não quem pensa melhor. Entre um tutorial de airfryer e um cancelamento relâmpago, confundimos isca com peixe e clique com critério.
Calma: não é sermão, é convite. Vamos dar dois passos para trás antes de correr para a parte que você acha que já sabe.
O PODER DA MANCHETE
A manchete é um teste de Rorschach — aquelas manchas de tinta que o psiquiatra suíço Hermann Rorschach usava para revelar o inconsciente — só que com fonte em negrito. Como diria o psicólogo e economista Daniel Kahneman, nosso Sistema 1 adora atalhos; o 2 chega atrasado, sem café.
Veja o que aconteceu: “Casais felizes já experimentaram ménage”. Seu Sistema 1 provavelmente disparou escândalo, curiosidade ou julgamento antes mesmo de ler uma linha do texto. Cada leitor projetou sua própria experiência e valores.
Por isso eu e minha esposa aparecemos aqui na foto, sorrindo, para contar que você clicou por curiosidade — enquanto outros se contentaram com a adrenalina do susto.
A VERDADE POR TRÁS DO ESCÂNDALO
No Instagram, a psicóloga Barbara Ahlert (@inteligenciaerotica) publicou a manchete que fez muita gente cuspir o café: “Casais felizes já fizeram ménage.” Pronto, o feed pegou fogo e metade dos leitores parou no susto.
Só que o tal “ménage” é outro: nada de colchões extras, mas três elementos que cabem em qualquer casa — curiosidade, diálogo e liberdade emocional. Parece menos picante? Experimente praticar e me conte depois o nível de adrenalina.
Falo de dentro de casa: são quarenta anos de convivência com minha esposa, e nossa vida a dois é um ménage permanente desses três.
O TRIO QUE TRANSFORMA
Curiosidade: Trocar o “você sempre…” por “me ajuda a entender…?”. Em vez de “você sempre deixa a louça suja”, experimente “me ajuda a entender como podemos organizar melhor a cozinha juntos?”.
Diálogo: Não é debate de campeonato; é sintonizar para ouvir além das palavras. A meta não é ter razão, é ter paz.
Liberdade Emocional: Cada um tem direito a sentir o que sente sem pedir licença. “Posso estar triste hoje sem que isso seja um ataque a você” ou “Posso comemorar meu sucesso sem diminuir o seu”.
LIMITES QUE LIBERTAM
Limite bom é moldura, não mordaça. Curiosidade não é vasculhar celular; diálogo não é auditório; liberdade emocional não é licença para atropelar.
Combinamos o terreno, regamos o que faz bem e podamos o que machuca. O romance e a paz agradecem — e ninguém precisa dormir no sofá.
O CONVITE FINAL
Desafio: Hoje à noite, em vez de tentar vencer uma conversa, tente descobrir uma coisa nova sobre quem divide a mesa com você. Faça uma pergunta curiosa, escute por inteiro, permita-se sentir. Se for para incluir terceiros, que sejam esses três. Eles cabem no bolso, não fazem barulho no corredor e, de quebra, melhoram o que vocês já têm. O resto é pirotecnia de feed. O que fica é a transformação silenciosa de quem escolhe amar com inteligência.
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es