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Marcelo Moryan é Publicitário, Designer, Escritor, Fotógrafo, Artista Multimídia e tem mais de 90 prêmios nacionais e internacionais na sua carreira.

Coluna Marcelo Moryan: Estou nem aí

Por Marcelo Moryan

Publicado em 15 de junho de 2025 às 09:00
Atualizado em 15 de junho de 2025 às 09:00

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Estou enm ai
Ilustração: Marcelo Moryan

A vida, em sua vertiginosa corrida, parece nos empurrar para um estado de “estou nem aí” quase automático. Onde foi parar a empatia? Aquele sorriso genuíno, antes tão comum, hoje é um artigo de luxo, abundante apenas em fotos filtradas e nas redes sociais. No cotidiano, a sensação é de que cada conversa já nasce com prazo de validade, um desejo velado de se livrar logo do outro, de não se aprofundar. Essa aspereza contamina tudo: os atendimentos básicos, as lojas, os hospitais, até mesmo as relações mais íntimas. É uma barreira invisível que erguemos, uma forma de nos protegermos, mas que, no fim, nos isola.

Não é só o tempo que nos falta, mas o aprendizado de ser humano, de como nos relacionar de forma autêntica. Como bem observou Mark Twain, “a bondade é a linguagem que os surdos podem ouvir e os cegos podem ver”. Mas é a indiferença que se tornou a verdadeira ameaça. Elie Wiesel afirmou, com lucidez, que “o oposto do amor não é o ódio, é a indiferença”. Essa frase ressoa assustadoramente em nossos dias. O ódio, por mais destrutivo que seja, ainda reconhece o outro, se engaja, mesmo que perversamente. A indiferença, por outro lado, anula, apaga, nega a humanidade do outro. Ela é, sim, um pecado contra a conexão humana e contra a justiça. Quando somos indiferentes, permitimos que a injustiça floresça, que o sofrimento alheio seja ignorado, as vozes dos vulneráveis silenciadas.

Intrigado com essa reflexão? Assista “Até a Última Gota” na Netflix. O filme é um soco no estômago, um espelho para o fardo contemporâneo: a ilusão do “um dia eu chego lá”. Acompanhamos Janiyah, cuja vida desmorona em um único dia, em meio a uma tragédia que é, essencialmente, fruto dessa ausência de empatia coletiva, dessa indiferença normalizada. É a promessa vazia de um amanhã perfeito para viver, enquanto a realidade se impõe, cruel. A sociedade, em seu “estou nem aí”, segue indiferente até que, quando a ficha cai – como cai para todos os personagens ao redor de Janiyah, de forma dolorosa – o desespero é real e avassalador.

E o final? Surpreendente, ele nos joga de cara com o colapso mental que nos impede de encarar a realidade. Mas e se a “última gota” não for a dor do outro, mas a sua própria, agora, enquanto lê estas linhas? Aquela gota que, finalmente, te faz perceber que o “um dia” é hoje, e que a humanidade que tanto cobramos do outro precisa ser resgatada primeiro em nós mesmos. Porque, sem essa reconexão de verdade, sem essa disposição de se importar e agir, a avalanche de indiferença e desespero que o filme tão bem retrata já está caindo sobre todos nós.

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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es

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