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Coluna Marcelo Moryan: “NO KINGS”: Por Uma Alma Sem Coroa
Por Marcelo Moryan
Publicado em 22 de junho de 2025 às 09:00
Atualizado em 22 de junho de 2025 às 09:00
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A frase “NO KINGS” (sem reis) – um grito potente contra o poder absoluto – reverberou em movimentos recentes nos Estados Unidos. Ela crava um princípio fundamental da democracia: a rejeição a monarcas, a qualquer tirano. Mas essa expressão, em sua simplicidade, toca em algo muito mais universal. Ela nos convida a encarar uma verdade que me inquieta: todos, no fundo da alma, parecem aspirar à coroa. Absolutamente todos. E sim, essa constatação, incômoda e real, me abraça.
Essa ânsia insaciável por controle, por ter a palavra final, por ser o “Rei da Cocada Preta” no nosso pequeno universo, manifesta-se como uma pulsão quase inerente. Na arena política, vemos líderes que prometem humildade, mas agem como déspotas, buscando privilégios e poder. A história é um espelho disso, de imperadores a revolucionários que se tornaram ditadores.
Encarar esse impulso interior — essa tentação de se crer REI, de flutuar na ilusão de um controle inabalável — é um desafio vital. Exige um olhar honesto e cirurgicamente crítico para o próprio reflexo. Minha crença reside na força genuína que floresce na autocrítica, na coragem visceral de questionar nossas motivações.
Mas, sejamos francos: quando foi a última vez que impus minha razão sem sequer abrir espaço para outro ponto de vista? Aquela minha “simplicidade” não seria um jeito sutil de manipular? Essa necessidade de validação, vem de um lugar de verdade ou é vaidade disfarçada? É fácil apontar o dedo para os “Trumps da vida” lá fora. Mas, se ousarmos um olhar mais íntimo, no nosso bairro, na nossa cidade, descobrimos um exército de “reizinhos” e “rainhas” também.
E o mais incômodo é, por vezes, perceber que somos nós mesmos que vestimos essa coroa invisível. A tentação se manifesta nas pequenas arrogâncias, na dificuldade de ouvir uma crítica, na relutância em partilhar o palco, ou na hora de humildemente admitir um erro. A luta contra o “rei lá fora” é visível. Mas a batalha contra o “reizinho” que habita em nós — essa sombra íntima — e contra os “reizinhos” que nos cercam, essa é a tarefa diária que molda quem somos. Ela exige humildade visceral, empatia constante e uma vigilância incansável do coração. É nessa luta silenciosa que a verdadeira liberdade se constrói.
Se você pudesse segurar um cartaz onde se lê “NO KINGS”, e seus olhos se fixassem nos “reizinhos” que te incomodam, que rosto viria à sua mente? Ou, em um ato de coragem e profunda introspecção, você ousaria ver o seu próprio rosto refletido ali, um convite que se lança, não como condenação, mas como um sopro gentil, à transformação?
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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es
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